Ler é ver o Mundo em outros mundos. Viver vidas, saborear gestos e gostos, sentir perfumes...
Olhar para descobrir, compreender, interiorizar, integrar, partilhar...
E Literar? Brincar... com linhas, cores, palavras, imagens, sons, para escutar, transformar e... criar!?
Literatura - Literacia - Leituras , em jeito desprendido sem tempo nem pressa!
BIBCOM - projecto, mérito, bibliotecas, colaboração, amigos...

É com este pano de fundo, colorido e nublado, que percorro o caminho da blogosfera. Um desafio!

segunda-feira, 8 de março de 2010

Acácia rubra - presença africana

Acácia rubra em Maputo, Moçambique
fotos de amigas - P.C.S. 2007
Angola - poesia de Alda Lara
Presença africana

E apesar de tudo,
ainda sou a mesma!
Livre e esguia,
filha eterna de quanta rebeldia
me sagrou.
Mãe-África!
Mãe forte da floresta e do deserto,
ainda sou,
a irmã-mulher
de tudo o que em ti vibra
puro e incerto!...

- A dos coqueiros,
de cabeleiras verdes
e corpos arrojados
sobre o azul...
A do dendém
nascendo dos abraços
das palmeiras...
A do sol bom,
Mordendo
o chão das Ingombotas...
A das acácias rubras,
salpicando de sangue as avenidas,
longas e floridas...

Sim!, ainda sou a mesma.
- A do amor transbordando
pelos carregadores do cais
suados e confusos,
pelos bairros imundos e dormentes
(Rua 11...Rua 11...)
pelos negros meninos
de barriga inchada
e olhos fundos...

Sem dores nem alegrias,
de tronco nu e musculoso,
a raça escreve a prumo,
a força destes dias...

E eu revendo ainda
e sempre, nela,
aquela
longa historia inconsequente...

Terra!
Minha, eternamente...
Terra das acácias,
dos dongos,
dos cólios baloiçando,
mansamente... mansamente!...
Terra!
Ainda sou a mesma!
Ainda sou
a que num canto novo,
pura e livre,
me levanto,
ao aceno do teu Povo!...
Alda Ferreira Pires Barreto de Lara Albuquerque nasceu em Benguela, Angola, a 9.6.1930.Faleceu em Cambambe, Angola, a 30.1.1962

domingo, 7 de março de 2010

Março - Mulher!


Person at the window (1925), Salvador Dali

Para mim o
amor
fica-me justo

Eu só visto
a paixão
de corpo inteiro
Poesia Só de Amor, Maria Teresa Horta,

Os dias Internacionais servem para chamar a atenção para pequenas_ grandes coisas que deveriam ser óbvias. Mas os direitos e deveres ainda são pedras angulares que necessitam de ser amaciadas, pela educação e pela cultura, que o tempo, demasiado lento por vezes, vai produzindo mudança nas atitudes.
Há 100 anos que o Dia Internacional da Mulher clama pela igualdade - de direitos, de oportunidades, de voto, de liderança, de acesso à instrução, à cultura entre seres humanos - sejam homem ou mulher. Foi necessário muita luta de mulheres e também de homens para que a Mulher fosse considerada, em termos legais, um ser pleno com direitos e deveres, tal como era já concedido ao homem. Em termos da prática quotidiana ainda há caminho a ser caminhado...
As notícias dão-nos conta dessa distância...
Não é a igualdade igual que se exige. Felizmente, homem e mulher são diferentes, e oferecem muitas ou algumas diferenças, que podem enriquecer a partilha nos mais variados contextos da vida. Mas é um sem razão os preconceitos que ainda invadem os olhares, as leituras, que se fazem do feminino ou do masculino. Na conjugação do feminino e do masculino descobre-se a harmonia. As competências e as capacidades dependem do crescimento de cada um, não do género.

A janela... é a oportunidade que se olha para fora, de dentro!

sábado, 6 de março de 2010

Março - mês do renascer!

A Primavera está aí, mesmo que a chuva intensa pareça ocultar os seus sinais.
Mas existem para usufruirmos da sua leitura: no florir multicolor dos vasos nos pátios, nos rosas e brancos das árvores dos jardins e das ruas, nos amarelos que ainda vão surpreendendo e no cantar dos melros e companheiros que já encantam com o seu trinado. Há um renascer no ar e, então, por que não inspirar, olhar, escutar e ser!?


Imagens do meu pátio.
A pequena Camellia ou japoneira, como também é conhecida, está, de novo, a florir. Tem uma bela flor vermelha e folhas de verdes, por vezes, brilhante. É sempre com um renovado gosto, que espreito cada botão e vou seguindo o seu crescimento, sempre na expectativa de ver a planta esplendorosa com as suas flores rubras.
Aprendo que é da família das Theaceae, nome comum a estas plantas ornamentais e às do chá, e ainda que na China são conhecidas por "mandarim", (chá) a minha bebida preferida.
Este olhar da natureza vai-se enleando a outras imagens e leituras.
Do livro já lido há muito tempo, um romance de Alexandre Dumas Filho, "A Dama das Camélias", com uma 1ª. edição em 1848, ao teatro, ao cinema e à ópera.
Margarida Gautier, a heroína do romance, foi ganhando novas vidas através de actrizes como Sarah Bernhardt (1870) e, Isabelle Huppert (1980), e se transformou em Violeta Valéry na ópera La Traviata, de Guiseppe Verdi, definitivamente ligada à voz de Maria Callas, que actuou no teatro de S. Carlos com o tenor Alfred Kraus. Deste acontecimento único existe uma gravação.

Mas faz bem escutar e sentir os novos contornos que soprano da actualidade, como a fabulosa Ana Netrebko, oferece à eterna figura da dama das camélias. Libiamo - brindemos a Primavera, o cantar do amor em toda a sua diversidade, com Elina Garanca; Ramón Vargas, Ludovic Tézier. Vale a pena ouvir com um olhar aberto.
São múltiplas as leituras que uma simples flor nos traz...