Ler é ver o Mundo em outros mundos. Viver vidas, saborear gestos e gostos, sentir perfumes...
Olhar para descobrir, compreender, interiorizar, integrar, partilhar...
E Literar? Brincar... com linhas, cores, palavras, imagens, sons, para escutar, transformar e... criar!?
Literatura - Literacia - Leituras , em jeito desprendido sem tempo nem pressa!
BIBCOM - projecto, mérito, bibliotecas, colaboração, amigos...

É com este pano de fundo, colorido e nublado, que percorro o caminho da blogosfera. Um desafio!

sábado, 17 de julho de 2010

Silêncio?!

16 de Julho de 1945 - 65 anos de Hiroshima, hoje. Um silêncio pesado demais para ser calado. Um cogumelo egoista e inumano revela-nos uma face do ser humano tão desumanizada que uma criança nua, queimada, perdura e moldura o perdão e a compaixão que é preciso deixar crescer para que o sol ilumine a felicidade possível no verde da esperança do futuro.

Palavras de poetas para que o silêncio se torne grito consciente de Não a todas as Hiroshimas.
Vinicius de Morais - Rosa de Hiroshima
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditáriaA
rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada
Sophia de Mello Breyner Andresen - Cantata de Paz
Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar
Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar
Vemos, ouvimos e lemos
Relatórios da fome
O caminho da injustiça
A linguagem do terror
A bomba de Hiroshima
Vergonha de nós todos
Reduziu a cinzas
A carne das crianças
D'África e Vietname
Sobe a lamentação
Dos povos destruídos
Dos povos destroçados
Nada pode apagar
O concerto dos gritos
O nosso tempo é
Pecado organizado.
Francisco Fanhais canta esta cantata da paz, uma das canções de resistência.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Silêncio II

Paisagem de silêncio. Olhar a profundidade para lá do horizonte...


A massa de azul ondulante tão silenciosa no seu movimento perpétuo ergue-nos o olhar para o fundo do ser galáctico, à procura da origem do tudo e do nada!



Mar das Caraíbas, Março de 2010
Escutar Pablo Neruda....
El mar
Un solo ser, pero no hay sangre.
Una sola caricia, muerto o rosa.
Viene el mar y reúne nuestras vidas
y solo ataca y se reparte y canta
en noche y día y hombre y criatura.
La esencia: fuego y frío: movimiento

O mar
Um único ser, mas não existe sangue.
Uma carícia apenas, morte ou rosa.
Vem o mar e reúne as nossas vidas,
sozinho ataca e reparte-se e canta
Em noite e dia e criatura e homem.
A essência: fogo e frio: movimento.

Antologia Poética de Pablo Neruda

quinta-feira, 20 de maio de 2010

SILÊNCIO I

Nunca pensei que o silêncio fosse tão necessário como agora. Dei por mim a gostar cada vez mais de escutar o silêncio...
O silêncio tem-me permitido o encontro... comigo. E esta descoberta possibilita-me o encontro com a natureza e até com os outros.
O silêncio não é vazio. Muito pelo contrário. E não é obrigatoriamente doloroso.
Escutar o silêncio do mar é uma experiência cheia.
Já atravessei várias vezes o mar em idades diferentes. Não me apercebi antes desse silêncio porque a vida era-me naturalmente ruidosa...
Foi, há uns anos, no canal de Vitorino Nemésio, entre o Pico e S. Jorge, que numa viagem de amigos num barco à vela, me dei conta desta pequena maravilha pela primeira vez. O mar só é ruidoso quando encontra um obstáculo ao seu vai-vem ou quando transporta de longe a tempestade. Já tive também essa experiência e foi de facto assustadora. É outra coisa.
Mas escutar aquela massa enorme infinita de água ondulante silenciosa é estranhamente magnífico. A linha do horizonte guia-nos como a mostrar-nos os nossos limites, e servem, ao mesmo tempo, de âncora à fragilidade que interiormente sentimos.
De novo essa experiência veio ter comigo recentemente no mar das Caraíbas. É profundamente gratificante, regeneradora e misteriosa.
É um silêncio que nos acompanha e que nos permite escutar o revolver da terra e o brotar do verde e da cor na paisagem de todos os dias e vê-la transformada numa Primavera renovada.

MAR
I
De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais profundo
Aquela praia extasiada e nua,
onde me uni ao mar, ao vento e à lua.

II
Cheia a terra as árvores e o vento
que a Primavera enche de perfumes
Mas neles só quero e só procuro
a selvagem exalação das ondas
Subindo para os astros como um grito puro.

Sophia de Mello Breyner Andresen , Poesia I (1944)

segunda-feira, 8 de março de 2010

Acácia rubra - presença africana

Acácia rubra em Maputo, Moçambique
fotos de amigas - P.C.S. 2007
Angola - poesia de Alda Lara
Presença africana

E apesar de tudo,
ainda sou a mesma!
Livre e esguia,
filha eterna de quanta rebeldia
me sagrou.
Mãe-África!
Mãe forte da floresta e do deserto,
ainda sou,
a irmã-mulher
de tudo o que em ti vibra
puro e incerto!...

- A dos coqueiros,
de cabeleiras verdes
e corpos arrojados
sobre o azul...
A do dendém
nascendo dos abraços
das palmeiras...
A do sol bom,
Mordendo
o chão das Ingombotas...
A das acácias rubras,
salpicando de sangue as avenidas,
longas e floridas...

Sim!, ainda sou a mesma.
- A do amor transbordando
pelos carregadores do cais
suados e confusos,
pelos bairros imundos e dormentes
(Rua 11...Rua 11...)
pelos negros meninos
de barriga inchada
e olhos fundos...

Sem dores nem alegrias,
de tronco nu e musculoso,
a raça escreve a prumo,
a força destes dias...

E eu revendo ainda
e sempre, nela,
aquela
longa historia inconsequente...

Terra!
Minha, eternamente...
Terra das acácias,
dos dongos,
dos cólios baloiçando,
mansamente... mansamente!...
Terra!
Ainda sou a mesma!
Ainda sou
a que num canto novo,
pura e livre,
me levanto,
ao aceno do teu Povo!...
Alda Ferreira Pires Barreto de Lara Albuquerque nasceu em Benguela, Angola, a 9.6.1930.Faleceu em Cambambe, Angola, a 30.1.1962

domingo, 7 de março de 2010

Março - Mulher!


Person at the window (1925), Salvador Dali

Para mim o
amor
fica-me justo

Eu só visto
a paixão
de corpo inteiro
Poesia Só de Amor, Maria Teresa Horta,

Os dias Internacionais servem para chamar a atenção para pequenas_ grandes coisas que deveriam ser óbvias. Mas os direitos e deveres ainda são pedras angulares que necessitam de ser amaciadas, pela educação e pela cultura, que o tempo, demasiado lento por vezes, vai produzindo mudança nas atitudes.
Há 100 anos que o Dia Internacional da Mulher clama pela igualdade - de direitos, de oportunidades, de voto, de liderança, de acesso à instrução, à cultura entre seres humanos - sejam homem ou mulher. Foi necessário muita luta de mulheres e também de homens para que a Mulher fosse considerada, em termos legais, um ser pleno com direitos e deveres, tal como era já concedido ao homem. Em termos da prática quotidiana ainda há caminho a ser caminhado...
As notícias dão-nos conta dessa distância...
Não é a igualdade igual que se exige. Felizmente, homem e mulher são diferentes, e oferecem muitas ou algumas diferenças, que podem enriquecer a partilha nos mais variados contextos da vida. Mas é um sem razão os preconceitos que ainda invadem os olhares, as leituras, que se fazem do feminino ou do masculino. Na conjugação do feminino e do masculino descobre-se a harmonia. As competências e as capacidades dependem do crescimento de cada um, não do género.

A janela... é a oportunidade que se olha para fora, de dentro!

sábado, 6 de março de 2010

Março - mês do renascer!

A Primavera está aí, mesmo que a chuva intensa pareça ocultar os seus sinais.
Mas existem para usufruirmos da sua leitura: no florir multicolor dos vasos nos pátios, nos rosas e brancos das árvores dos jardins e das ruas, nos amarelos que ainda vão surpreendendo e no cantar dos melros e companheiros que já encantam com o seu trinado. Há um renascer no ar e, então, por que não inspirar, olhar, escutar e ser!?


Imagens do meu pátio.
A pequena Camellia ou japoneira, como também é conhecida, está, de novo, a florir. Tem uma bela flor vermelha e folhas de verdes, por vezes, brilhante. É sempre com um renovado gosto, que espreito cada botão e vou seguindo o seu crescimento, sempre na expectativa de ver a planta esplendorosa com as suas flores rubras.
Aprendo que é da família das Theaceae, nome comum a estas plantas ornamentais e às do chá, e ainda que na China são conhecidas por "mandarim", (chá) a minha bebida preferida.
Este olhar da natureza vai-se enleando a outras imagens e leituras.
Do livro já lido há muito tempo, um romance de Alexandre Dumas Filho, "A Dama das Camélias", com uma 1ª. edição em 1848, ao teatro, ao cinema e à ópera.
Margarida Gautier, a heroína do romance, foi ganhando novas vidas através de actrizes como Sarah Bernhardt (1870) e, Isabelle Huppert (1980), e se transformou em Violeta Valéry na ópera La Traviata, de Guiseppe Verdi, definitivamente ligada à voz de Maria Callas, que actuou no teatro de S. Carlos com o tenor Alfred Kraus. Deste acontecimento único existe uma gravação.

Mas faz bem escutar e sentir os novos contornos que soprano da actualidade, como a fabulosa Ana Netrebko, oferece à eterna figura da dama das camélias. Libiamo - brindemos a Primavera, o cantar do amor em toda a sua diversidade, com Elina Garanca; Ramón Vargas, Ludovic Tézier. Vale a pena ouvir com um olhar aberto.
São múltiplas as leituras que uma simples flor nos traz...

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Encontro com Chopin

Dia 1 de Março faz 200 anos que nasceu Frèderic Chopin, compositor polaco, considerado o grande poeta do piano. Tenho um gosto especial pela sua música.
Há sempre um determinado momento ou circunstância que envolve o encontro e/ou a descoberta de uma música, de um livro, de uma pintura ou de um filme, com que se estabelece uma relação de emoção estética inesquecível.
A minha descoberta de Chopin deu-se quando era ainda uma jovem adolescente, através da sua obra Polonaise Heróica op. 53, tocada por um boneco manipulado, num filme italiano, que, se bem me recordo, se chamava " idade da inocência".
Um grupo de saltimbancos, em que uma mulher manipulava um boneco que, vestido a rigor, tocava esta obra, com uma força e uma graça extraordinárias. Numa situação dramática, de perda profundamente dolorosa, o profissionalismo e o respeito pelo público impõem-se ao natural desejo de "fugir" e o boneco volta a ganhar vida, desta vez tocando com raiva e dor, criando uma cumplicidade com a manipuladora, como se fossem um ser único unidos pelo sofrimento e perplexidade.
Memorizei os sons. Mais tarde reconheci-os nesta música de Chopin.

Há muitas outras obras que foram entrando no meu conhecimento e gosto musical. Esta, contudo, tem uma cor e gestos que repousam na memória, mais tarde igualmente vividos, e que descubro, de alguma maneira, neste vídeo com um dos muitos concertos de Arthur Rubinstein.
http://www.youtube.com/watch?v=nsl7XDTBaJo

A música oferece-nos leituras da vida.



Notas:
Frase de Chopin "simplicidade é a realização máxima".
José Jorge Letria deslumbra-se com Chopin em «A Última Valsa de Chopin», um livro a descobrir.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Florbela Espanca - Jardim público de Évora


Busto de Florbela Espanca, da autoria do escultor Diogo de Macedo, no Jardim Público de Évora.


Poetas

Ai as almas dos poetas
Não as entende ninguém;
São almas de violetas
Que são poetas também.

Andam perdidas na vida,
Como as estrelas do ar;
Sentem o vento gemer
Ouvem as rosas chorar!

Só quem embala no peito
Dores amargas e secretas
É que em noites de luar
Pode entender os poetas

E eu que arrasto amarguras
Que nunca arrastou ninguém
Tenho alma pra sentir
A dos poetas também!

Florbela Espanca, Versos, Pedaços de sorriso, arteplural Edições, 2004

(Florbela Espanca nasceu em Vila Viçosa, Alentejo, em 1894. Estudou em Évora. Morreu em 1930.)

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Ler e olhar -Jardim Público de Évora


Palácio de D. Manuel e Coreto
Espinheiro e Jardim Público
Os Jardins são espaços de poesia e de ciência. Ontem, 14 de Fevereiro, eu e o Artur fomos até ao Jardim Público, passando primeiro pelo Espinheiro. Queria passear um pouco e observar se árvores estavam já floridas, contrariando o dia frio e cinzento, que apelava a ficar em casa.
Na televisão tinham referido o Jardim Botânico de Coimbra com Magnólias lindíssimas e pensei que a do Jardim Público de Évora também era capaz de já oferecer algumas das suas lindas flores. Mas ainda não. Em breve será.
Informação sobre a magnólia junto do palácio de D. Manuel. Um lindo pavão , dos muitos que podem ser observados nas Ruínas fingidas, criadas por José Cinatti.
Sempre considerei que uma ida, em família, aos jardins, oferece momentos de um enorme enriquecimento e de uma criativa cumplicidade. Descobrir os nomes, científico e vulgar, das árvores, das flores e dos animais, a criação de um herbário com as crianças, trocar corridas e sorrisos, são aprendizagens colectivas e singulares que permanecem ao longo da vida. Eu aprendi a respirá-los, sentir e a respeitar a importância destes espaços e desses momentos ao longo da nossa vida em família.
Aqui ficam olhares sobre o Jardim Público de Évora. Onde até descobrimos uma estátua, para nós, uma novidade! Um tocador de saxofone? Um palhaço?

Lembrei uma ode de Pablo Neruda a um dia feliz, seja ele qual for. Um hino à vida!

Oda al día feliz

Esta vez dejame

Ser feliz,

Nada há pasado a nadie,

No estoy en parte alguna,

Sucede solamente

Que soy feliz

Por los cuatro costados

Del corazón, andando

Durmiendo o escribiendo.

Qué voy a hacerle, soy

Feliz,

Soy más innumerable

Que el pasto

En las praderas,

Siento la piel como un árbol rugoso

Y el agua abajo,

Los pájaros arriba,

El mar como un anillo

En mi cintura,

Hecha de pan y piedra la tierra

El aire canta como una guitarra.

Tú a mi lado en la arena

Eres arena,

Tú cantas y eres canto,

el mundo

Es hoy mi alma

Canto y arena

El mundo

es hoy tu boca,

dejame

en tu boca y en arena

ser feliz,

ser feliz porque sí, porque respiro

y porque tú respiras,

ser feliz porque toco

tu rodilla

y es como si tocara

la piel azul del cielo

y su fescura.

Hoy dejame

A mí solo

Ser feliz,

Com todos o sin todos,

Ser feliz

Con el pasto

Y la arena,

Ser feliz, com el aire y la tierra,

Ser feliz,

Contigo, con tu boca,

Ser feliz.


Pablo Neruda, Antologia (selecção e tradução de josé Bento), Relógio de Água, 1998.


(Pablo Neruda nasceu no Chile em 1904 e morreu em Setembro de 1973 em Santiago, depois do golpe de 11 de Setembro que derruba Allende)

S. Valentim -St. Valentine's day!

Em dia de S. Valentim, 14 de Fevereiro, veio-me à memória algumas aulas de inglês em que se comemorava o St. Valentine’s Day com a leitura da lenda, a tradição, uns jogos de palavras e rimas, para grande divertimento e motivação para a escrita de mensagens que partilhavam entre eles e elas. Decorar as pequenas mensagens, criar outras semelhantes, sempre produziram momentos de aprendizagem bem divertida. Tenho a certeza que haverá alunas e alunos que não esqueceram alguns “silly poems” como estes:

My love is like a cabbage
Divided into two,
The leaves I give to others,
The heart I give to you.

I love flowers,
With their lovely colours,
their lovely fragrance.
They make me happy,
and rejoice my heart.

If apples were pears
And peaches were plums
And the rose had a different name.
If tigers were bears
And fingers were thumbs
I'd love you just the same.

Valentine so bright and gay,
I am sending out today.
With the message, "I love you,"
Hoping that you love me, too.

Roses are Red
Violets are Blue
Carnations are Sweet
And so are you.

And so are they
That send you this
And when we meet
We'll have a kiss.

To-morrow is Saint Valentine's Day
All in the morning betime,
And I a maid at your windo
To be your Valentine.

William Shakespeare from Hamlet, Act IV, Scene 5

Tive que os aprender de cor, também, e redescobri-os agora, num sítio Web, bem mais moderno: (http://www.hellokids.com/)

Mais informação: síte júnior ; Wikipédia ; Wikipédia EN