domingo, 28 de fevereiro de 2010
Encontro com Chopin
Há sempre um determinado momento ou circunstância que envolve o encontro e/ou a descoberta de uma música, de um livro, de uma pintura ou de um filme, com que se estabelece uma relação de emoção estética inesquecível.
A minha descoberta de Chopin deu-se quando era ainda uma jovem adolescente, através da sua obra Polonaise Heróica op. 53, tocada por um boneco manipulado, num filme italiano, que, se bem me recordo, se chamava " idade da inocência".
Um grupo de saltimbancos, em que uma mulher manipulava um boneco que, vestido a rigor, tocava esta obra, com uma força e uma graça extraordinárias. Numa situação dramática, de perda profundamente dolorosa, o profissionalismo e o respeito pelo público impõem-se ao natural desejo de "fugir" e o boneco volta a ganhar vida, desta vez tocando com raiva e dor, criando uma cumplicidade com a manipuladora, como se fossem um ser único unidos pelo sofrimento e perplexidade.
Memorizei os sons. Mais tarde reconheci-os nesta música de Chopin.
Há muitas outras obras que foram entrando no meu conhecimento e gosto musical. Esta, contudo, tem uma cor e gestos que repousam na memória, mais tarde igualmente vividos, e que descubro, de alguma maneira, neste vídeo com um dos muitos concertos de Arthur Rubinstein.
http://www.youtube.com/watch?v=nsl7XDTBaJo
A música oferece-nos leituras da vida.
Notas:
Frase de Chopin "simplicidade é a realização máxima".
José Jorge Letria deslumbra-se com Chopin em «A Última Valsa de Chopin», um livro a descobrir.
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
Florbela Espanca - Jardim público de Évora
Busto de Florbela Espanca, da autoria do escultor Diogo de Macedo, no Jardim Público de Évora.
Poetas
Ai as almas dos poetas
Não as entende ninguém;
São almas de violetas
Que são poetas também.
Andam perdidas na vida,
Como as estrelas do ar;
Sentem o vento gemer
Ouvem as rosas chorar!
Só quem embala no peito
Dores amargas e secretas
É que em noites de luar
Pode entender os poetas
E eu que arrasto amarguras
Que nunca arrastou ninguém
Tenho alma pra sentir
A dos poetas também!
Florbela Espanca, Versos, Pedaços de sorriso, arteplural Edições, 2004
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010
Ler e olhar -Jardim Público de Évora
Na televisão tinham referido o Jardim Botânico de Coimbra com Magnólias lindíssimas e pensei que a do Jardim Público de Évora também era capaz de já oferecer algumas das suas lindas flores. Mas ainda não. Em breve será.
Aqui ficam olhares sobre o Jardim Público de Évora. Onde até descobrimos uma estátua, para nós, uma novidade! Um tocador de saxofone? Um palhaço?
Lembrei uma ode de Pablo Neruda a um dia feliz, seja ele qual for. Um hino à vida!
Esta vez dejame
Ser feliz,
Nada há pasado a nadie,
No estoy en parte alguna,
Sucede solamente
Que soy feliz
Por los cuatro costados
Del corazón, andando
Durmiendo o escribiendo.
Qué voy a hacerle, soy
Feliz,
Soy más innumerable
Que el pasto
En las praderas,
Siento la piel como un árbol rugoso
Y el agua abajo,
Los pájaros arriba,
El mar como un anillo
En mi cintura,
Hecha de pan y piedra la tierra
El aire canta como una guitarra.
Tú a mi lado en la arena
Eres arena,
Tú cantas y eres canto,
el mundo
Es hoy mi alma
Canto y arena
El mundo
es hoy tu boca,
dejame
en tu boca y en arena
ser feliz,
ser feliz porque sí, porque respiro
y porque tú respiras,
ser feliz porque toco
tu rodilla
y es como si tocara
la piel azul del cielo
y su fescura.
Hoy dejame
A mí solo
Ser feliz,
Com todos o sin todos,
Ser feliz
Con el pasto
Y la arena,
Ser feliz, com el aire y la tierra,
Ser feliz,
Contigo, con tu boca,
Ser feliz.
Pablo Neruda, Antologia (selecção e tradução de josé Bento), Relógio de Água, 1998.
S. Valentim -St. Valentine's day!
Em dia de S. Valentim, 14 de Fevereiro, veio-me à memória algumas aulas de inglês em que se comemorava o St. Valentine’s Day com a leitura da lenda, a tradição, uns jogos de palavras e rimas, para grande divertimento e motivação para a escrita de mensagens que partilhavam entre eles e elas. Decorar as pequenas mensagens, criar outras semelhantes, sempre produziram momentos de aprendizagem bem divertida. Tenho a certeza que haverá alunas e alunos que não esqueceram alguns “silly poems” como estes:
My love is like a cabbage
Divided into two,
The leaves I give to others,
The heart I give to you.
I love flowers,
With their lovely colours,
their lovely fragrance.
They make me happy,
and rejoice my heart.
If apples were pears
And peaches were plums
And the rose had a different name.
If tigers were bears
And fingers were thumbs
I'd love you just the same.
Valentine so bright and gay,
I am sending out today.
With the message, "I love you,"
Hoping that you love me, too.
Roses are Red
Violets are Blue
Carnations are Sweet
And so are you.
And so are they
That send you this
And when we meet
We'll have a kiss.
All in the morning betime,
And I a maid at your windo
To be your Valentine.
William Shakespeare from Hamlet, Act IV, Scene 5
Tive que os aprender de cor, também, e redescobri-os agora, num sítio Web, bem mais moderno: (http://www.hellokids.com/)
Mais informação: síte júnior ; Wikipédia ; Wikipédia EN
sábado, 13 de fevereiro de 2010
Nelson Mandela - liberdade vivida na paz conquistada!
A reconciliação começou com ele e levou um país como a África do Sul do apartheid, passando pelo perigo de uma guerra civil, a um país com potencialidades económicas imensas, terminando com a segregação racial e pacificando os grupos internos. Foi o primeiro presidente não branco da África do Sul (1993). Juntamente com Frederik De Klerk recebeu o Prémio Nobel da Paz em 1993.
Algumas das suas frases :
- Sonho com o dia em que todas as pessoas levantar-se-ão e compreenderão que foram feitos para viverem como irmãos.
- "Uma boa cabeça e um bom coração formam uma formidável combinação."
- "Não há caminho fácil para a Liberdade."
- "A queda da opressão foi sancionada pela humanidade, e é a maior aspiração de cada homem livre."
- "A luta é a minha vida. Continuarei a lutar pela liberdade até o fim de meus dias."
- "A educação é a arma mais forte que se pode usar para mudar o mundo."
(http://www.suapesquisa.com/biografias/nelson_mandela.htm)
Ah! Como te invejo,
pássaro que cantas
o silêncio das plantas
ao sol a cantar
a grande ilusão
da liberdade...
(...com algemas de ar.)
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
Fevereiro - mês das Mimosas
Estou à espera que floresça outra, mais tardia, mas que todos os anos alegra a visão de uma janela onde o branco das casas se vai impondo cada vez mais ao verde dos campos.
Esta parece bravia, isolada, mas muito luminosa!
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
Mar de longe!
Ontem, através do correio electrónico chegaram fotografias que transportaram um dia bonito, céu azul e mar espelhado, do outro lado do oceano - costa Leste americana, Newport. Partilha de momentos felizes e de amizade.
O mar é um fascínio que já ondeou por perto em vivências por outras paragens e que agora se torna miragem na planura. Estas duas fotografias deste mar que distancia e aproxima duas costas vieram ter comigo ontem, assim, e trouxeram-me à memória e aos sentidos o poema de Sophia de Mello Breyner Andresen -Liberdade, em Mar novo.
Aqui nesta praia onde
Não há vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
Fevereiro - mês das Mimosas!
As Mimosas, amarelas e adocicadas, trazem um novo perfume, por vezes inebriante. São bonitas e recordam o sol, na cor, no calor, na transformação. Têm uma enorme capacidade de regeneração e de sobrevivência.
As árvores como os livros têm folhas
e margens lisas ou recortadas,
e capas (isto é copas) e capítulos
de flores e letras de oiro nas lombadas.
E são histórias de reis, histórias de fadas,
as mais fantásticas aventuras,
que se podem ler nas suas páginas,
no pecíolo, no limbo, nas nervuras.
As florestas são imensas bibliotecas,
e até há florestas especializadas,
com faias, bétulas e um letreiro
a dizer: «Floresta das zonas temperadas».
É evidente que não podes plantar
no teu quarto, plátanos ou azinheiras.
Para começar a construir uma biblioteca,
basta um vaso de sardinheiras.
Jorge Sousa Braga, Herbário, Lisboa, Assírio & Alvim, 1999
Jorge Sousa Braga nasceu em 1957, em Vila Verde. O Poeta Nu (1980s). Outros livros de poemas: Fogo sobre Fogo (1998) e A Ferida Aberta (2001)